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Resumo semanal: Copom endurece tom

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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Confira as principais notícias da semana (30/1-3/2), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: Fed desacelera ritmo de alta apesar do mercado de trabalho aquecido

O Banco Central americano (Federal Reserve – Fed) reduziu o ritmo de aumento de juros pela segunda vez consecutiva. O intervalo subiu 25 pontos-base para 4,5% a 4,75%, conforme esperado depois que membros do Comitê de Política Monetária mostraram certo alívio com a desaceleração da inflação. A decisão foi unânime. No comunicado divulgado, foi mantido que mais aumentos dos juros serão necessários para que a inflação retorne à meta. O presidente do Banco, Jerome Powell, reforçou que próximas decisões continuarão dependentes de dados e que uma moderação da inflação começa a acontecer, mas que os salários elevados ainda pressionam preços em vários setores. Em nossa visão, a taxa de juros deve alcançar um pico de 5,1% no início deste ano, com mais dois aumentos consecutivos de 25 pontos-base nas próximas reuniões. Acreditamos que os juros devem permanecer elevados por um período prolongado e que o ciclo de corte não deve começar em 2023

O mercado de trabalho continua forte. O Departamento de Trabalho publicou dados referentes ao mês de janeiro. De acordo com o Establishment Survey, houve criação de 517 mil empregos no período, muito acima do mês anterior e da expectativa de mercado. Nos últimos 12 meses, a média de contratações está em 413,9 mil, continuando bem acima da média pré-pandemia de 164 mil em 2019. O ganho médio por hora trabalhada desacelerou para 0,3% em relação ao mês anterior revisado, mas nos últimos doze meses o índice acumulou alta de 4,4%, indicando pressão de salários. Segundo o Household Survey, a taxa de desemprego diminuiu para 3,4%, menor valor da série desde 1970. A taxa de participação da força de trabalho aumentou levemente de 62,3% para 62,4%, mostrando leve alta nos últimos meses. Outro relatório do Departamento de Trabalho, o Jolts, mostrou aumento do número de vagas de emprego em aberto, com o total de 11 milhões em dezembro. O número de vagas em aberto por desempregado aumentou para 1,9. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 183 mil na semana encerrada em 28 de janeiro, 3 mil abaixo da semana anterior. Todos os indicadores sugerem que o mercado de trabalho segue robusto. Em nossa visão, um desaquecimento do mercado de trabalho deve ser lento, o que deve manter a inflação pressionada por algum tempo.

O setor imobiliário continua fraco, sentindo os efeitos da política monetária mais restritiva do Banco Central americano.  As vendas pendentes de casas aumentaram 2,5% em dezembro frente ao mês anterior, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês), mas seguem em níveis muito baixos. Os preços de casas tiveram leve queda em novembro, segundo a Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês), depois de ficarem estáveis no mês anterior. O índice acumula alta de 8,2% em 12 meses, ainda elevado, mas continua diminuindo em relação ao início do ano, quando chegou a alcançar 19,3%. A contínua retração do setor ajuda a reduzir preços de venda de imóveis, que tem efeito defasado sobre os aluguéis, componente importante dos índices de inflação. Menores preços de aluguéis devem contribuir para desacelerar a inflação em 2023.

A atividade na indústria segue em retração. O índice de gerentes de compras do setor de manufaturas (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM diminuiu 1 ponto em janeiro frente ao mês anterior, para 47,4, com queda na demanda e na produção. Preços tiveram aumento na margem, mas mostram tendência geral de queda desde o começo do ano. O componente de emprego caiu, mas permanece em patamar de expansão. A desaceleração do ISM começou em meados de 2021.  Nos últimos 3 meses, o índice sinaliza contração do setor.

Europa: Bancos Centrais continuam subindo juros

O conflito entre Rússia e Ucrânia está próximo de completar um ano. Tropas russas continuam lançando mísseis e bombardeando áreas, principalmente no leste da Ucrânia, com expectativa de tomar a região de Donbas. O presidente ucraniano disse que a ofensiva está se intensificando. Líderes da União Europeia participam de uma reunião hoje em Kiev, em uma demonstração de apoio ao país. A última cúpula deste tipo foi realizada pouco antes da guerra. A União Europeia deve anunciar novo pacote de suporte à Ucrânia e mais um pacote de sanções contra a Rússia nas próximas semanas.

Preços das commodities energéticas seguem voláteis. Entre os dias 27 de janeiro e 2 de fevereiro, o preço do petróleo diminuiu 5% e segue girando em um patamar de 80 dólares por barril (Brent). A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) decidiu manter os cortes de produção anunciados em reunião anterior, conforme esperado. O preço do gás natural subiu 3% no mesmo período, com previsões de queda na temperatura na próxima semana na Europa. Os estoques da commodity no continente europeu permanecem elevados. No fechamento de quinta-feira, o preço do gás natural estava 33% abaixo da média de janeiro de 2022 (pré-guerra), o que continua sinalizando menores riscos de recessão no continente.

A confiança na economia melhorou, mas segue fraca. O índice de sentimento econômico, calculado pela Comissão Europeia, subiu 2,8 pontos em janeiro para 99,9, o terceiro aumento consecutivo desde o início da guerra na Ucrânia. O índice reflete uma melhora principalmente na confiança do setor de serviços, mas continua abaixo da média de longo prazo.

O PIB da área do euro no 4T22 cresceu 0,1% frente ao trimestre anterior, segundo a prévia divulgada pelo Eurostat, ajudado por forte crescimento da Irlanda que costuma apresentar dados voláteis. A expectativa era de contração. Detalhes da divulgação ainda não estão disponíveis. Houve retração na Alemanha (-0,2%) e Itália (-0,1%) e expansão na França (0,1%) e Espanha (0,2%).

O mercado de trabalho segue aquecido. A taxa de desemprego continuou baixa, próxima ao mínimo da série, em 6,6% em dezembro. O índice divulgado pelo Eurostat mostra heterogeneidade entre as economias do bloco. O desemprego permanece baixo na Alemanha (2,9%), mas alto na Espanha (13,1%) e na Grécia (11,6%).

A inflação ao consumidor desacelerou pelo terceiro mês consecutivo. O índice (CPI, na sigla em inglês) subiu 8,5% nos últimos doze meses até janeiro, segundo a prévia do Eurostat. O dado deve ser observado com cautela já que a Alemanha, principal economia do bloco, adiou sua divulgação para a próxima semana, e o Eurostat se baseou em estimativa própria. O menor crescimento nos preços ocorreu em razão do menor aumento no preço de energia (17,2%), enquanto alimentos continuaram subindo (14,1%). No entanto, o núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, subiu 5,2%, mantendo valor recorde do período anterior. A inflação desacelerou na Itália (10,9%), mas acelerou na França (7%) e Espanha (5,8%). A inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) subiu 1,1% no mês de dezembro frente ao mês anterior, depois de duas quedas consecutivas, puxada por maior preço de energia (2,5%). Em 12 meses, o índice continua desacelerando, mas permanece elevado e acumula alta de 24,6%.

O Banco Central Europeu (BCE) aumentou as taxas de juros em 50 pontos-base, conforme esperado, elevando a taxa de depósito para 2,5% ao ano – maior nível desde 2008. Este foi o quinto aumento consecutivo. Em comunicado, o Banco indicou que mais um aumento da mesma magnitude deve ocorrer na próxima reunião em março, mas que as decisões continuarão sendo dependentes de dados. A presidente do banco, Christine Lagarde, disse que os juros precisam chegar em território restritivo e permanecer elevados até que tenham confiança que a inflação está retornando à meta. Lagarde destacou que apesar da desaceleração da inflação, o núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, permanece em nível recorde.

O Banco Central da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) também elevou a taxa de juros em 50 pontos-base, conforme esperado, para 4% ao ano – maior nível desde 2008. O aumento foi o décimo consecutivo. O BoE reforçou que a inflação, apesar de elevada, deve ter passado do pico e que os salários começaram a desacelerar apesar do mercado de trabalho continuar aquecido. Ambos os pontos reforçam a ideia de que o fim do ciclo de aumento de juros pode estar próximo. No comunicado, o Banco reiterou que se existirem pressões inflacionárias persistentes, mais aperto monetário será necessário.

China: setor de serviços volta a expandir

O número de casos de Covid-19 diminuiu significativamente e permaneceu em nível abaixo do pico alcançado em dezembro de 2022, segundo o Ministério da Saúde chinês. A expectativa de aumento de casos durante o Ano Novo Lunar não se confirmou apesar do aumento da mobilidade no período. Fronteiras da China com Hong Kong e Macau devem ser reabertas a partir da próxima semana.

A atividade teve melhora significativa em janeiro. De acordo com os índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), calculados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês), o PMI composto, que considera o setor de manufaturas, construção e serviços, subiu 10,3 pontos, para 52,9, voltando a sinalizar expansão depois de três meses de contração. O setor de serviços foi o que mais contribuiu para o aumento do índice com melhora expressiva em setores mais afetados pelo surto de Covid-19, causado pelo fim da política de Covid zero, como transportes, restaurantes, varejo e acomodação. O PMI relacionado ao setor de serviços subiu para 14,6 pontos para 54 e de manufaturas para 50,1. A produção e a demanda doméstica ganharam força.

O lucro da indústria contraiu 4% no ano frente ao ano anterior, de acordo com o Escritório Nacional de Estatística. O resultado reflete queda no lucro de manufaturas, enquanto setores de mineração e produção de matérias-primas continuam apresentando aumento dos lucros.

Brasil

Focus: expectativas de inflação acima da meta no longo prazo

A projeção para o IPCA apresentou alta para 2023 (de 5,48% para 5,74%) e para 2024 (de 3,84% para 3,9%), permaneceu estável para 2025 (em 3,5%) e subiu para 2026 (de 3,47% para 3,5%). Os números esperados para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) permaneceram praticamente inalterados para 2023 (de 0,79% para 0,8%) e ficaram estáveis para 2024 (em 1,5%). A taxa Selic permaneceu em 12,5% para 2023, em 9,5% para 2024 e em 8,5% para 2025. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: produção Industrial de dezembro estável

A produção industrial apresentou um resultado fraco em dezembro. O índice ficou estável frente a novembro e registrou queda de 1,3% na comparação anual – em linha com o mercado. No ano passado, a indústria contraiu 0,7%. À frente, nossa expectativa é que a indústria registre mais um ano de contração. Com este resultado, nossa previsão de crescimento do PIB de 2023 segue em 1%, também como reflexo da desaceleração global e da política monetária contracionista. Para 2024, projetamos alta de 0,5%.

Fiscal: resultado positivo em 2022 não deve se repetir

O Setor Público Consolidado registrou um déficit de R$ 11,8 bi em dezembro do ano passado. No acumulado do ano de 2022, o resultado foi positivo em R$ 126 bi (1,3% do PIB), quase o dobro do registrado em 2021 (0,7% do PIB). A dívida líquida encerrou o ano em 57,5% e a dívida bruta em 73,5%. Os governos regionais contribuíram para o resultado com um superávit de 0,7% do PIB. Entretanto, projetamos déficit do setor público consolidado de 1,2% do PIB para 2023 devido ao aumento de gastos e queda na arrecadação em função da desaceleração da atividade.

Política monetária: Copom sinaliza Selic estável por mais tempo

O Banco Central do Brasil (BCB) confirmou as expectativas e manteve a taxa Selic em 13,75% nesta quarta-feira (1). O Comitê afirmou que “segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação”.

A projeção de inflação do BCB no cenário de referência passou de 5% para 5,6% para 2023 e de 3% para 3,4% para 2024. Este cenário supõe trajetória de juros que diminui de 13,75% para 12,5% até o final de 2023, para 9,5% ao final de 2024 e para 8,5% ao final de 2025.

Um dos destaques desse comunicado foi a ênfase dada às expectativas de inflação. De fato, as projeções da Pesquisa Focus encontram-se acima das metas em 2023 (5,7% versus 3,25%), 2024 (3,9% versus 3%) e em 2025 (3,5% versus 3%). O Copom endureceu o discurso ao elucidar que “a conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária”.

Um ponto importante foi a publicação de projeções para inflação em um cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante. Para 2023, para o terceiro trimestre de 2024 e para o final do ano de 2024 as projeções neste cenário situam-se em 5,5%, 3,1% e 2,8%, respectivamente.

O Comitê reforçou “que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.” Ou seja, o Comitê manteve a porta aberta para voltar a subir juros, caso necessário. 

Em suma, o comunicado sugere que o Banco Central manterá por mais tempo do que esperávamos a Selic em 13,75% ao ano, adiando, portanto, o ciclo de redução de juros (por ora, nosso cenário contempla queda de juros na segunda metade de 2023). Aguardamos a ata da reunião, que será divulgada na próxima terça-feira (7), para termos mais detalhes sobre os rumos futuros da política monetária.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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