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Resumo mensal: dólar forte

Equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulga projeções

Atualizado em

A equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulgou nesta quinta-feira (14) mais uma edição do seu relatório macroeconômico. Confira, abaixo, a íntegra do documento:

Resumo

Internacional

A economia global caminha para um cenário mais turbulento e de crescimento baixo, mas não uma recessão. O principal motivo é o aperto monetário que vem sendo implementado em vários países, visando reduzir a inflação. Adicionalmente, a escassez de gás na Europa e a dificuldade no restabelecimento das cadeias de produção afetadas tanto pelo longo conflito na Ucrânia quanto por medidas restritivas na China como resposta à Covid-19, pesam sobre a atividade global.

Nos EUA, a atividade desacelerou, refletindo o impacto da política monetária mais restritiva sobre a produção e a demanda. No entanto, o cenário ainda é de uma demanda aquecida que continua pressionando a inflação. O aumento nos preços tem sido intenso e generalizado. Mesmo o núcleo da inflação, que exclui energia e alimentos, permanece forte. O banco central americano (Federal Reserve – Fed) subiu a taxa de juros em 75 pontos-base na reunião de junho e sinalizou que um aumento de 50 ou 75 pontos-base seria apropriado na próxima reunião, buscando trazer a inflação para a meta. Além disso, o Fed continua com a redução de seu balanço patrimonial, iniciada em junho. Face ao enxugamento de liquidez e preocupações com uma desaceleração global, o dólar vem se fortalecendo frente às demais moedas.

A área do euro, região mais afetada pelo conflito em razão do maior laço comercial com os países envolvidos, perdeu força no 2T22. Preços altos de energia e preocupações quanto ao fornecimento de gás russo diminuíram a confiança do consumidor e de empresas e pesam sobre a atividade. Falhas nas cadeias globais de produção também continuam afetando uma recuperação da economia no curto prazo. Pressões inflacionárias seguem elevadas. O Banco Central Europeu (BCE) terminou o programa de compras de ativos este mês, conforme anunciado, e indicou um primeiro aumento de juros na reunião de julho, provavelmente seguido de mais aumentos.

A China teve um crescimento no número de casos de Covid-19. Apesar de estar bem abaixo do surto que atingiu um pico em abril, a situação tem causado preocupações quanto a uma possível volta de medidas restritivas. A cidade de Xangai, depois de um lockdown de dois meses terminado em junho, estava quase de volta à normalidade quando testagens frequentes foram reintroduzidas nas últimas semanas. Os índices de atividade sinalizaram uma retomada da indústria e serviços no mês de junho, mas os setores podem perder força se medidas restritivas duras tiverem que ser aplicadas. O governo tem mostrado preocupações com o crescimento da economia local e pode antecipar uma permissão para mais emissões de títulos públicos, com a intenção de aumentar investimentos em infraestrutura.

Brasil

As condições que possibilitaram o sólido crescimento do PIB de 4,6% para 2021 não devem estar presentes no restante deste ano. Entretanto, os dados recentes de atividade têm vindo fortes e nos levaram a revisar nossa projeção de crescimento do PIB de 1,5% para 2,0% em 2022. Para 2023, acreditamos que o PIB deve continuar desacelerando devido principalmente à política monetária contracionista, que deve se estender ao longo do ano que vem.

O resultado primário do setor público consolidado voltou a surpreender positivamente, mas a perspectiva de desaceleração do crescimento e de aumento dos gastos do governo sugerem deterioração em 2022. Revisamos nossa projeção de resultado primário de superávit de 0,5% para 0,2% do PIB para 2022 e de 0,0% para déficit de 0,8% do PIB para 2023. Projetos aprovados recentemente no Congresso têm potencial de impactar negativamente as contas públicas na segunda metade deste ano e no próximo. A trajetória das contas públicas está em deterioração e voltaremos a ter déficit fiscal a partir do ano que vem.

Em nossa visão, a taxa de câmbio nos patamares atuais, historicamente elevados, reflete riscos fiscais. A taxa de câmbio possui forte correlação com a dívida líquida do setor público. A valorização do dólar globalmente também tem pressionado o real. Revisamos nossa projeção para taxa de câmbio de R$ 5,20 para R$ 5,50 no fim de 2022 e de R$ 5,60 para R$ 5,80 ao final de 2023.

A surpresa para cima na inflação corrente, alta na projeção de taxa de câmbio, além de uma folga menor do que projetávamos no mercado de trabalho, nos levariam a elevar nossas projeções de IPCA. Entretanto, foram aprovadas no Congresso Nacional medidas que reduzem os preços de serviços de telecomunicação, energia elétrica e, principalmente, combustíveis para este ano. Revisamos nossa projeção de 8,4% para 6,5% para o IPCA de 2022. Para 2023 ainda vemos deterioração, revisamos de 5,2% para 5,7% a projeção de IPCA.

O Copom sinalizou um novo ajuste, de igual ou menor magnitude, para a próxima reunião em agosto. A deterioração das projeções de inflação para 2023 deve levar o comitê a decidir por mais dois ajustes de 50 pontos-base nas reuniões de agosto e setembro, elevando a taxa Selic ao nível de 14,25%, finalizando o ciclo de ajuste monetário. A Selic deve permanecer neste patamar até pelo menos o 3º trimestre do ano que vem e terminar o ano em 12,25%.

Panorama Global

EUA

A economia americana desacelerou no 2T22, refletindo o impacto da política monetária mais restritiva. De acordo com o índice de gerente de compras (PMI na sigla em inglês), divulgado pela S&P Global, a atividade tanto no setor de manufaturas quanto serviços diminuiu em relação ao trimestre anterior, mas permanece em território expansionista (índice acima de 50 pontos). As empresas reportaram menor demanda e produção no período, e continuam indicando dificuldades de contratação de trabalhadores. Há pressões crescentes de preços e salários, com mais evidências de aquecimento no mercado de trabalho.

A inflação permanece alta. O aumento nos preços tem sido intenso e generalizado. Mesmo o núcleo da inflação, que exclui energia e alimentos, permanece forte. O principal motivo é uma demanda aquecida – depois de estímulos fiscais e monetários dados durante e depois da pandemia. Adicionalmente, observamos um mercado de trabalho aquecido, com salários acima da produtividade, e uma oferta limitada por dificuldades na cadeia de produção, em razão da guerra na Europa e Covid-19 na China. Por outro lado, a queda recente no preço de algumas commodities como petróleo e cobre, em razão de uma percepção de risco de recessão global, dão algum alento e podem ajudar a reduzir um pouco as pressões inflacionárias.

O banco central americano (Federal Reserve – Fed) subiu a taxa básica de juros em 75 pontos-base na reunião de junho, elevando o intervalo de juros para 1,5% a 1,75% ao ano. O aumento foi maior do que havia sido indicado na reunião anterior, em razão de uma inflação acima do esperado. Este foi o terceiro aumento consecutivo da taxa e o primeiro de 75 pontos-base desde 1994. Os membros do comitê de política monetária revisaram para baixo suas expectativas de crescimento da economia americana e sinalizaram uma política monetária mais restritiva com taxa de juros acima de 3% no fim deste ano. Na ata da reunião, o texto mostrou que a decisão de um aumento de 75 pontos-base foi quase unânime (apenas um voto dissidente).  O comitê também reafirmou forte compromisso em trazer a inflação para a meta de 2% ao ano. Reconheceu que a política monetária firme pode reduzir o ritmo de crescimento econômico por um tempo, mas considera que a volta da inflação para a meta é chave para alcançar o máximo emprego de forma sustentável. Indicou que para a próxima reunião, em 27 de julho, um aumento de 50 ou 75 pontos-base na taxa de juros seria apropriado. A redução do balanço patrimonial, iniciada em junho, continua de forma gradual e deve ganhar força e alcançar um ritmo máximo de diminuição dos ativos em US$ 95 bilhões por mês em setembro.

Europa

O conflito entre Rússia e Ucrânia entrou no quinto mês. A Rússia avançou no leste do país e segue para tomar a região de Donbas. A Ucrânia mostra resistência e continua recebendo ajuda militar, financeira e humanitária do Ocidente. Negociações diretas entre Rússia e Ucrânia estão praticamente paradas. O conflito se estende por mais tempo do que era previsto. Os Estados Unidos e aliados pretendem impor um valor máximo para o preço do petróleo russo, negociado principalmente com China e Índia. A intenção é de diminuir a capacidade russa de se financiar durante a guerra.

Os preços de energia, metais e grãos continuam com alta volatilidade. O preço do petróleo diminuiu no mês de junho, refletindo uma expectativa de uma recessão global causada por políticas monetárias mais restritivas por parte dos principais bancos centrais de economias desenvolvidas e por uma escassez de gás na Europa. O preço do gás subiu mais de 80% de 1 de junho a 12 de julho, em razão de menor remessa da Rússia, principal fornecedor da Europa para Alemanha e Itália, e preocupações que um corte total na oferta russa ocorra em breve. Enquanto russos alegam problemas técnicos para a redução dos envios, europeus temem que o fluxo não seja restabelecido após a manutenção do principal gasoduto que conecta a Rússia à Alemanha, iniciada esta semana. Alguns países dependentes do gás russo começam a reativar usinas de carvão. Por ora, exportações de grãos da Ucrânia não foram retomadas desde o início da guerra, mas o trigo teve queda de aproximadamente 20% com perspectivas de maior safra nos Estados Unidos.

A atividade desacelerou, segundo os índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), tanto em manufaturas quanto serviços. Os PMIs de ambos os setores continuam sinalizando expansão, porém mais moderada. Houve diminuição na demanda e os preços permanecem elevados. A região tem sofrido com gargalos na cadeia de produção resultantes do conflito na Ucrânia e de lockdowns na China. Adicionalmente, preocupações recentes quanto a uma possível falta de gás pesam sobre a atividade e levaram a Alemanha, maior economia da região, a subir seu grau de risco de abastecimento para alarme, um nível antes de impor racionamentos, para que o gás seja poupado.

A inflação alcançou novo recorde em razão da forte alta no preço de energia e alimentos. O núcleo da inflação também subiu com aumento maior e generalizado nos preços de bens, refletindo restrições de oferta e repasse de preços de insumos, em particular, energia. No mercado de trabalho há sinais de aperto com a taxa de desemprego alcançando mínima histórica em maio.

A percepção de um risco maior para o crescimento da Europa, em razão de uma escassez de gás, e uma política monetária mais restritiva por parte do banco central americano têm enfraquecido o euro em relação ao dólar. A moeda do bloco desvalorizou em um curto espaço de tempo, de 1 de junho a 12 de julho, quase 7%, chegando a ser negociada em paridade com o dólar.

O Banco Central Europeu (BCE) terminou seu programa de compra de ativos em 1 de julho, conforme anunciado, e indicou que um primeiro aumento de juros, de 25 pontos-base, deve ocorrer na próxima reunião, em julho. O BCE também sinalizou um novo aumento em setembro, de magnitude não especificada, a depender da evolução de suas projeções de inflação. O Banco revisou suas projeções de inflação para cima, ultrapassando a meta de 2% no médio prazo. As projeções de crescimento econômico também foram alteradas, diminuindo para 2,8% em 2022 e para 2,1% em 2023.

China

O número de novos casos de Covid-19 provocado pela variante ômicron voltou a subir no país depois de ficar próximo a 100 por duas semanas no fim de junho. O total de novos casos segue bem abaixo dos milhares que ocorreram durante o surto em abril e maio deste ano e levaram a duras restrições nas duas maiores cidades do país, Xangai, que impôs lockdown por dois meses, e Pequim. O novo surto está localizado em algumas províncias. Xangai também apresentou um aumento de casos, levando a temores de um novo lockdown. A cidade vem isolando áreas e realizando testagens sucessivas em distritos onde casos são encontrados, por enquanto nenhuma restrição mais dura foi imposta. A política de Covid zero permanece, o que significa que mesmo um leve aumento no número de casos em qualquer localidade deve ser tratado com rigor.

A China deve ser menos afetada pelo conflito na Ucrânia do que as economias ocidentais. O país tem mantido uma postura neutra, sua exposição comercial aos países em conflito é baixa e não foram impostas sanções aos produtos russos. Dito isso, a China pode ser afetada indiretamente pelo menor crescimento global, que pode diminuir suas exportações, e pela maior volatilidade de preços de commodities no mercado internacional.

Os investimentos desaceleraram nos cinco primeiros meses do ano, com moderação em manufaturas, que seguem apoiadas por políticas públicas e exportações sólidas, e em obras de infraestrutura. Já investimentos no setor imobiliário seguem fracos, possivelmente por menor confiança de potenciais compradores com empresas do setor. As mais alavancadas seguem sofrendo restrições de crédito, com impacto no cumprimento de suas obrigações financeiras e na realização de novos empreendimentos, o que tem afetado negativamente o crescimento da economia chinesa no curto prazo. Mesmo as mais saudáveis enfrentam dificuldades nas vendas. Construções e vendas de imóveis seguem fracas e os preços têm diminuído em várias cidades do país.

Os indicadores de atividade industrial e de serviços, reportados pelos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), calculado pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês), continuaram melhorando em junho, sinalizando uma recuperação da economia, depois de uma forte queda em abril. A melhora do quadro de Covid-19 no país em junho, com o fim do lockdown em Xangai e menores restrições também em Pequim, contribuiu para retomada da atividade no mês. Entretanto, há riscos de a atividade desacelerar caso o novo surto de Covid-19 deteriore.

O governo chinês tem mostrado sinais de preocupação com o crescimento econômico em 2022 e está considerando um plano que permitirá aos governos locais emitir títulos especiais, no total de US$ 220 bilhões, no segundo semestre para acelerar investimentos em obras de infraestrutura. A medida antecipará quotas do próximo ano e ajudará a aliviar pressões sobre a economia. O presidente Xi Jinping reafirmou que a meta de crescimento do país para o ano, de algo em torno de 5,5%, será alcançada. Esta foi primeira vez desde abril que o presidente fez referência à meta, que se tornou desacreditada por economistas em meio ao enfraquecimento do setor imobiliário e da desaceleração da atividade provocada por medidas restritivas associadas à estratégia de Covid zero.

O banco central da China (PBOC, na sigla em inglês) manteve inalteradas as taxas de curto, médio e longo prazo, conforme esperado. O PBOC tem mostrado preferência por medidas de crédito direcionadas a alguns setores ao invés de uma redução nas taxas de juros em meio a um aperto de política monetária em várias economias desenvolvidas. Um movimento contrário do PBOC poderia provocar fuga de capital, depreciação cambial e inflação no país.

Os PMIs de manufaturas da maioria dos países do leste asiático, excluindo China – importantes elos na cadeia de suprimento global – continuaram sinalizando expansão em junho, porém mais moderada.

Cenário Doméstico

Atividade

O PIB brasileiro cresceu 4,6% em 2021, após cair 3,9% em 2020 sob forte impacto da pandemia. A progressiva reabertura da economia, possibilitada pelo avanço da vacinação, permitiu a retomada do setor de serviços, particularmente os prestados às famílias. A elevação do número de casos de Covid-19 no início de 2022 teve pouco impacto na atividade e o PIB cresceu 1% no 1T22. Os efeitos da pandemia sobre a economia estão sendo superados.

Para o PIB do 2T22 esperamos crescimento de 1,4% frente ao trimestre anterior, com alta em serviços, indústria e agropecuária. No entanto, os trimestres seguintes devem apresentar crescimento baixo ou negativo.

As condições que possibilitaram o sólido resultado para 2021 e início de 2022 não devem estar presentes no restante deste ano. A taxa Selic em território contracionista já afeta a atividade. A forte desaceleração do crescimento global deve impactar a atividade doméstica. A normalização da política monetária dos bancos centrais globais e, em particular, do banco central americano, impõe novos desafios à atividade global, num contexto em que a Europa sofre um choque na oferta de energia e a China pode voltar a ter problemas com um novo surto de Covid-19. A alta nos preços de commodities, que beneficiaram o Brasil no primeiro semestre, não deve se manter a frente: já vemos queda nos preços desses produtos em função da desaceleração global e do risco de recessão.

Por outro lado, os dados recentes de atividade econômica têm vindo consistentemente fortes, corroborando nosso cenário de expansão do PIB na primeira metade de 2022. Além disso, medidas de estímulo fiscal recentemente aprovadas no congresso podem contribuir para que tenhamos um segundo semestre mais ameno para a atividade. Revisamos nossa projeção para o ano de 1,5% para 2,0%. Para 2023, entretanto, acreditamos que o PIB deve continuar desacelerando devido principalmente à política monetária contracionista, que deve se estender ao longo do ano que vem. Revisamos para baixo nossa projeção de crescimento, de 0,5% para 0%, para 2023.

A taxa de desemprego surpreendeu positivamente pela décima segunda vez consecutiva em maio (ao vir mais baixa do que o esperado). Ela segue em patamar relativamente alto (9,5% na série com nosso ajuste sazonal), mas já se aproxima do seu nível neutro. A perspectiva de crescimento abaixo do potencial para o segundo semestre deste ano e o próximo ano nos leva a projetar uma taxa de desemprego que volta a subir no ano que vem.

PIB

Fiscal

O resultado primário do setor público consolidado encerrou o ano de 2021 positivo em 0,7% do PIB. Foi o primeiro superávit primário desde 2013. Para 2022, a perspectiva de desaceleração do crescimento e da inflação, combinada com uma aceleração dos gastos, indica uma piora do resultado das contas públicas em relação ao ano anterior. As divulgações dos resultados fiscais recentes melhores do que o esperado refletem, na nossa visão, uma inflação persistentemente mais alta e preços de commodities elevados que fortalecem a arrecadação. Em particular, o alto preço dos combustíveis impulsiona o resultado fiscal dos governos regionais. Por outro lado, projetos aprovados este ano (dentre eles a LC 194, a zeragem de alguns impostos federais e estaduais sobre combustíveis, e a redução de IPI) têm o potencial de afetar negativamente a arrecadação em cerca de R$ 130 bi (1,3% do PIB) este ano e R$ 200 bi (2,0% do PIB) em 2023, caso as medidas temporárias sejam prorrogadas. Além disso, do lado dos gastos, a PEC 15/2022 aprovada recentemente, que inclui o aumento do Auxílio Brasil, cria despesas de R$ 42 bi que ficarão fora do teto para este ano.

Para o ano que vem, na nossa visão, o risco desses novos gastos serem prorrogados é grande. Reduzimos nossa projeção para o resultado primário do setor público consolidado de superávit de 0,5% para 0,2% em 2022 e de 0,0% para déficit de 0,8% em 2023. A trajetória das contas públicas está em deterioração e voltaremos a ter déficit fiscal a partir do ano que vem.

Nossa projeção de dívida líquida passou de 58,6% para 59,8% do PIB para 2022. A dívida deve continuar subindo em 2023 puxada pela perspectiva de juros elevados, pelo baixo crescimento do PIB e pelas medidas recentes de desonerações e aumento de gastos. Nossa expectativa para dívida líquida de 2023 passou de 61,1% para 64,6% do PIB ao final do ano. A incerteza fiscal aumentou e vemos uma deterioração das perspectivas de longo prazo para a sustentabilidade das contas públicas.

Setor externo

Acreditamos que o atual nível do câmbio em patamares historicamente elevados esteja alinhado com os fundamentos da economia, principalmente considerando os riscos fiscais. A taxa de câmbio possui forte correlação com a dívida líquida do setor público.

Continuamos acreditando que a piora da trajetória da dívida líquida do governo e o fortalecimento do dólar frente às demais moedas, decorrente da retirada de estímulos monetários nos EUA, são fatores que devem levar a uma depreciação do real. Alteramos a projeção de taxa de câmbio de R$ 5,20 para R$ 5,50 para o final de 2022. Para 2023, o câmbio deve continuar a registrar depreciação, pelos mesmos motivos citados acima. Nossa projeção para a taxa de câmbio ao final de 2023 passou de R$ 5,60 para R$ 5,80.

Com relação às contas externas, as importações em patamar elevado, apesar da taxa de câmbio depreciada, levarão a um saldo negativo das transações correntes para 2022. A perspectiva de desaceleração global também contribui para este resultado. Nossa projeção para o resultado da conta corrente é negativo em US$ 46 bi em 2022. Para 2023, o câmbio mais depreciado deve reduzir o déficit. Esperamos déficit de U$ 21 bi.

Inflação

A forte elevação de preços em 2021 de 10,1% impacta a inflação deste ano. Acreditamos que, passados os choques recentes, a inflação irá desacelerar, mas de forma gradual.

Há fatores que nos levariam a subir nossas projeções para este ano. Primeiro, revisamos para baixo novamente nossa projeção de taxa de desemprego para o final do ano em função de dados melhores do que projetávamos. A inflação de serviços deve continuar elevada à frente em função da inércia inflacionária. Segundo, a inflação corrente se mostrou mais persistente do que as previsões nos últimos meses.

Entretanto, o Congresso Nacional aprovou a LC 194, que limita o ICMS de energia elétrica, combustíveis, telecomunicações e isenta de impostos federais a gasolina e o etanol. Estimamos um impacto no IPCA desse projeto de cerca de 250 pontos-base, mas há muita incerteza em relação à magnitude do repasse aos preços. Desta forma, revisamos para baixo nossa projeção de IPCA de 8,4% para 6,5% em 2022. Para 2023, de um lado tivemos revisão para baixo nos preços do mercado futuro de commodities, e de outro revisão para baixo na taxa de desemprego (que pressiona a inflação de serviços) e para cima na taxa de câmbio (que pressiona a inflação de bens). Com isso, nossa projeção de IPCA passou de 5,2% para 5,7% para 2023.

Política monetária

O Copom (Comitê de Política Monetária) iniciou um ciclo de alta de juros em março do ano passado. Na última reunião, em junho, o Comitê elevou a taxa Selic em 50 pontos-base, para 13,25%, e sinalizou um novo ajuste, de igual ou menor magnitude, para a próxima reunião em agosto.

As projeções de inflação do BCB no cenário de referência subiram de 7,3% para 8,8% para 2022 e de 3,4% para 4% para 2023. Para 2024, o modelo indica inflação de 2,7%. Este cenário supõe a trajetória de juros prevista na Pesquisa Focus, que se eleva até 13,25% ao final de 2022 e reduz-se para 10% ao final de 2023.

O texto da ata trouxe uma novidade importante. O comitê esclareceu que a estratégia de convergência para o redor da meta no horizonte relevante exige a “manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”, sinalizando que a Selic deve permanecer alta por período prolongado.

Entretanto, o Copom reconheceu que, dada a persistência dos choques recentes, “somente a perspectiva de manutenção da taxa básica de juros por um período suficientemente longo não asseguraria, neste momento, a convergência da inflação para o redor da meta no horizonte relevante”. Portanto, o comitê optou por sinalizar um novo ajuste de igual (50 pontos-base) ou menor magnitude para a próxima reunião.

Vale lembrar que, nas duas próximas reuniões (agosto e setembro), o BCB deve estender seu horizonte relevante de política monetária, passando a olhar também para o ano de 2024, ainda que com peso menor do que o ano de 2023. De qualquer forma, o ano de 2023 seguirá sendo o foco principal da política monetária. Nas duas reuniões subsequentes (outubro e dezembro), a probabilidade de elevações adicionais de juros diminui, dado que os anos de 2023 e 2024 passarão a ter pesos iguais e as projeções do Copom já indicam IPCA de 2024 abaixo da meta mesmo com queda de juros.

A deterioração das projeções de inflação para 2023 deve levar o comitê a decidir por mais dois ajustes de 50 pontos-base nas reuniões de agosto e setembro, elevando a taxa Selic ao nível de 14,25%, finalizando o ciclo de ajuste monetário. A Selic deve permanecer neste patamar até pelo menos o 3º trimestre do ano que vem e terminar o ano em 12,25%.

Projeções macroeconômicas do C6 Bank

2019202020212022P2023P
Atividade
Crescimento Real do PIB1,2%-3,9%4,6%2,0%0,0%
PIB Nominal (R$ bi)7.3897.4688.6799.66110.239
Fiscal
Resultado Primário (% PIB)-0,8%-9,4%0,7%0,2%-0,8%
Dívida Líquida (% PIB)54,7%62,5%57,2%59,8%64,6%
Dívida Bruta (% PIB)74,4%88,6%80,3%80,7%87,0%
Setor Externo
R$/US$ (final de período)4,035,205,585,505,80
Balança Comercial (US$ bi)2732361427
Conta Corrente (US$ bi)-65-24-28-46-21
Conta Corrente (% PIB)-3,5%-1,7%-1,7%-2,6%-1,1%
Inflação
IPCA (Var. a/a )4,3%4,5%10,1%6,5%5,7%
Juros
Selic (dez)4,50%2,00%9,25%14,25%12,25%
P= Projeção | Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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