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Resumo semanal: economia brasileira desacelera

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

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C6 Bank Felipe Salles. Foto: Germano Lüders

Confira as principais notícias da semana (28/11-2/12), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: atividade fraca, mas mercado de trabalho segue aquecido

O mercado de trabalho continua forte. O Departamento de Trabalho publicou dados referentes ao mês de novembro. De acordo com o Establishment Survey, houve criação de 263 mil empregos no período, acima do esperado. Apesar de mostrar uma tendência de queda, a média do ano (392 mil) continua acima da média pré-pandemia (em 2019: 164 mil). O ganho médio por hora trabalhada acelerou 0,6% em relação ao mês anterior, acima do esperado. Nos últimos doze meses, o índice acumula alta de 5,1%, indicando pressão de salários. Segundo o Household Survey, a taxa de desemprego se manteve estável em 3,7%, baixa para os padrões históricos, com o número de desempregados em torno de 6 milhões. A taxa de participação na força de trabalho diminuiu levemente de 62,2% para 62,1%. Outro relatório do Departamento de Trabalho, Jolts, mostrou leve redução do número de vagas de emprego em aberto, com o total para 10,3 milhões em outubro; o número de vagas em aberto por desempregado diminuiu para 1,7, mas segue elevado. Em relatório semanal, os pedidos iniciais de seguro-desemprego continuam em níveis baixos para padrões históricos, em 225 mil na semana encerrada em 26 de novembro, 16 mil abaixo da semana anterior.

A atividade na indústria desacelerou em novembro em relação ao mês anterior. O índice de gerentes de compras do setor de manufaturas (PMI, na sigla em inglês) do Instituto ISM, diminuiu 1,2 ponto para 49, com queda na demanda e produção, no emprego e em preços pagos por insumos.

A confiança do consumidor recuou em novembro. O dado do índice do Conference Board diminuiu 2 pontos para 100,2, em meio a um cenário de inflação alta e elevação das taxas de juros pesando sobre atividade e consumo. A expectativa para a inflação de 1 ano voltou a subir, registrando alta de 7,2% em novembro. A percepção quanto à facilidade de conseguir emprego aumentou 1 ponto e permanece elevada.

A renda das famílias aumentou 0,7% em outubro frente ao mês anterior em razão de aumentos de salários do setor privado e benefícios sociais do governo, enquanto os gastos com consumo subiram 0,8%. Houve aumento de gastos com bens (85,9bi) e serviços (61,9bi), segundo dados do Departamento do Comércio. Em termos reais, a renda subiu 0,4% e os gastos 0,5%.

O setor imobiliário continua em forte retração, sentindo os efeitos da política monetária mais restritiva do Banco Central americano.  As vendas pendentes contraíram 4,6% em outubro frente ao mês anterior, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis (NAR, na sigla em inglês), sinalizando que a venda de casas usadas deve continuar diminuindo nos próximos meses. Os preços de casas tiveram leve aumento de 0,1% em setembro, segundo a Agência Federal de Financiamento da Habitação (FHFA, na sigla em inglês), depois de quedas nos dois meses anteriores.

A inflação americana segue elevada. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) aumentou 0,3% em outubro em relação ao mês anterior, segundo dados do Departamento do Comércio americano. O índice acumula alta de 6% nos últimos doze meses, com destaque para o preço de energia (18,4%) e alimentos (20,1%). O núcleo do indicador, que exclui estes itens, desacelerou para 0,2% no mês, e em doze meses acumula alta de 5%, permanecendo bem acima da meta de 2% do Banco Central.

O presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou mensagem de menor aumento dos juros em breve, sinalizando possível aumento de 50 pontos-base na reunião de dezembro. Powell reiterou que a taxa de juros no fim do ciclo de aperto deve ser pouco maior do que a prevista em setembro deste ano pelos membros do Comitê de Política Monetária de 4,6% para 2023. Acrescentou que a política monetária ainda tem um longo caminho a percorrer para estabilizar preços e que são necessárias mais evidências de que a inflação está cedendo. Segundo o presidente da instituição, o mercado de trabalho permanece aquecido com salários subindo acima de níveis consistentes com uma inflação de 2% ao ano.

Europa: inflação desacelera

O conflito entre Rússia e Ucrânia entrou no décimo mês. Bombardeios russos continuam com mísseis de longo alcance direcionados principalmente para infraestruturas de energia, enquanto tropas russas têm dificuldades de avançar por terra. Várias regiões da Ucrânia, inclusive a capital, enfrentam blackouts prolongados. O operador da rede elétrica do país comentou que a produção de energia está em torno de 80% da demanda e, portanto, as restrições ao consumo devem continuar. O país pretende usar parte da ajuda financeira recebida para comprar gás natural. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, quer a criação de um tribunal especial para que políticos e militares russos sejam responsabilizados pela invasão ao país.

Os ministros de energia dos países da União Europeia continuam discutindo medidas para limitar o preço do petróleo russo, que deve ficar em torno de US$ 60 por barril. A partir de 5 de dezembro, os países da União Europeia começam a impor sanções sobre o petróleo russo transportado por navio (o que exclui, portanto, volumes movimentados por gasodutos, pequena parte do total).

Os preços das commodities seguem com alta volatilidade. Entre os dias 25 de novembro e 1 dezembro, o preço do petróleo subiu, refletindo um ajuste gradual de medidas restritivas na China apesar do surto de Covid-19 no país. O gás natural também subiu apesar dos estoques elevados no continente europeu, com temperaturas mais baixas.

A confiança na economia (índice de sentimento econômico, calculado pela Comissão Europeia) subiu 1 ponto em novembro para 93,7, o primeiro aumento desde o início da guerra na Ucrânia. O índice reflete uma melhora na confiança do consumidor, apesar de continuar próxima ao mínimo histórico em meio a uma inflação elevada, e leve melhora na confiança do setor de serviços, enquanto confiança na indústria diminuiu pelo quinto mês consecutivo.

A inflação desacelerou depois de um ano e meio, mas permanece em dois dígitos. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 10% nos últimos doze meses até novembro, segundo a Eurostat. Houve menor aumento no preço de energia (34,9%), mas aceleração em alimentos (13,6%). O núcleo da inflação, que exclui esses itens, subiu 5%, mesmo aumento do mês anterior. A inflação desacelerou na Alemanha (11,3%), Itália (12,5%) e Espanha (6,5%), e manteve mesmo aumento do mês anterior na França (7,1%). A inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) caiu 2,9% no mês de outubro frente ao mês anterior, a maior queda desde o início da série, puxada por menor preço de energia (-6,9%). A queda no PPI pode ajudar a reduzir preços ao consumidor à frente. Em 12 meses, o índice acumula alta de 30,8%.

Por ora, o mercado de trabalho segue aquecido. A taxa de desemprego diminuiu para 6,5% em novembro, novo mínimo histórico da série. O índice divulgado pela Eurostat mostra heterogeneidade entre as economias do bloco. O desemprego permanece baixo na Alemanha (3%) mas alto na Espanha (12,5%) e Grécia (11,6%).

China: restrições à mobilidade diminuem apesar do surto de Covid-19

Três anos depois do primeiro caso de Covid-19 ser identificado na China e rígidas medidas de controle começarem a ser implementadas no país, autoridades têm moderado o discurso e aliviado algumas restrições. O momento é de casos diários elevados, que chegaram a superar os 40.000 esta semana e ultrapassaram o pico alcançado na semana anterior. O número de áreas de risco alto também continuou subindo, o que significa que restrições à mobilidade aumentaram em locais específicos. Apesar do surto, especialistas têm falado da menor letalidade do vírus associado à variante ômicron, enquanto autoridades citam progresso na vacinação de idosos e evitam usar o termo Covid zero. Cidades grandes, mesmo com número de casos expressivos, anunciaram fim de lockdowns mais amplos, mantendo confinamentos seletivos em áreas de risco alto; a quarentena em casa e não em centros de isolamento está sendo implementada para casos leves ou contatos mais distantes em algumas cidades. O momento é de ajuste na política de Covid zero. Ainda longe de terminarem as restrições, o governo tem adotado medidas mais localizadas e adaptadas à situação atual.

A atividade continuou perdendo fôlego em novembro, de acordo com os índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês), calculados pelo Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). O PMI composto, que considera o setor de manufaturas, construção e serviços, diminuiu 1,9 ponto para 47,1, permanecendo em território contracionista pelo segundo mês consecutivo. A desaceleração na atividade ocorre em meio ao aumento dos casos de Covid-19 e às medidas restritivas associadas. O índice relacionado ao setor de serviços diminuiu para 45,1 pontos e de manufaturas para 48. A produção, a demanda doméstica e a externa perderam força.

O lucro da indústria contraiu 3% nos dez primeiros meses do ano até outubro frente ao mesmo período do ano anterior, de acordo com o Escritório Nacional de Estatística. O resultado reflete maior lucro em setores de mineração e produção de matérias-primas, enquanto manufaturas continuaram sentindo pressão de custos.

Brasil

Focus: expectativa de inflação para 2024 permanece estável

A projeção para o IPCA apresentou alta para 2022 (de 5,88% para 5,91%), ficou praticamente estável para 2023 (de 5,01% para 5,02%) e permaneceu inalterada para 2024 (em 3,5%). O número esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) registrou leve alta para 2022 (passou de 2,80% para 2,81%) e ficou estável para 2023 (em 0,70%). A taxa Selic ficou estável em 13,75% para o final deste ano, em 11,50% para 2023 e passou de 8% para 8,25% para 2024. As projeções estão no Boletim Focus, relatório do Banco Central que reúne a expectativa das instituições financeiras em relação aos principais indicadores econômicos do país.

Atividade: PIB do 3T22 marca o início da desaceleração econômica

O PIB do 3T22 registrou alta de 0,4% na comparação com o 2T22, em linha com o esperado por nós e um pouco abaixo do consenso de mercado (+0,6%). Do lado da oferta, tanto o setor de serviços (+1,1%) quanto indústria (0,8%) registraram expansão, enquanto o agropecuário registrou contração (-0,9%). Do lado da demanda, houve alta no consumo das famílias (+1,0%), ainda que em ritmo mais lento, assim como nos investimentos (+2,8%). Para frente acreditamos que a desaceleração vista neste trimestre vai se intensificar, já vemos sinais disso nos indicadores de atividade de mais alta frequência. A economia já começa a sentir mais fortemente os efeitos dos juros altos, assim como da desaceleração global.

A produção industrial do mês de outubro registrou leve queda de 0,3% frente ao mês anterior e alta de 1,7% na comparação anual – em linha com o mercado e abaixo da nossa projeção. À frente, nossa expectativa é que a indústria fique de lado, podendo apresentar contração. A política monetária contracionista, a desaceleração global e a queda dos preços das commodities contribuem para esta tendência.                         

Projetamos crescimento de 2,3% para o PIB em 2022, com viés de alta. Para 2023 seguimos projetando PIB perto de zero.

A taxa de desemprego da PNAD Contínua no trimestre terminado em outubro veio abaixo do esperado pelo mercado e por nós, atingindo 8,3%. Na série com nosso ajuste sazonal, a taxa de desemprego caiu de 8,7% no trimestre terminado em setembro para 8,5%. A taxa apresentou um recuo acentuado desde o pico em dezembro de 2020 (15%), refletindo principalmente a recuperação do PIB de serviços. A pesquisa mostrou leve alta da ocupação e estabilidade da população economicamente ativa (PEA) no mês. O crescimento da economia até agora foi suficiente para levar a taxa de desemprego para níveis próximos do neutro. O indicador reforça o cenário de que a inflação deve cair a passos lentos. A taxa deve andar de lado até o final do ano, mas voltar a subir no ano que vem em função da desaceleração da atividade econômica. O rendimento médio real habitual registrou nova alta no mês (0,7%). A massa salarial real habitual mostra forte expansão nos últimos meses, impulsionada principalmente pela recuperação do emprego.

Inflação: IGP-M de novembro registra nova deflação no mês

O IGP-M registrou deflação de 0,56% em novembro, queda mais intensa do que a expectativa do mercado, e acumula alta de 5,9% em 12 meses. A composição dos índices de atacado mostrou o IPA agrícola com queda de 1,47% frente à queda de mesma magnitude no mês anterior. O núcleo do IPA industrial – que inclui apenas os itens relacionados à inflação de bens industriais do IPCA, excluindo alimentos, combustíveis e minério de ferro – registrou deflação de 0,31% ante retração de 0,72% em outubro. A queda dos preços das commodities está puxando esse componente para baixo. No acumulado em 12 meses, o núcleo dos bens industriais está em 6,4% e o IPA agrícola em 5,13%. Nossa projeção de IPCA é de 5,6% para 2022, com viés de alta, e de 5,7% para 2023.

Fiscal: setor público consolidado registrou superávit em outubro

O resultado primário do setor público consolidado de outubro foi de superávit de R$ 27,1 bi. Em 12 meses, o governo central acumula superávit de 1,1% do PIB. Projetamos resultado primário do setor público consolidado de 1,4% do PIB para 2022 e déficit de 2% para 2023, ambos com viés de alta.

PEC da Transição foi protocolada no Senado e segue sendo negociada

O governo eleito protocolou na segunda-feira (28/11) o texto da PEC da Transição no Senado. A proposta apresentada deixa de fora do teto de gastos as despesas relacionadas ao Auxílio Brasil, no valor total de R$ 175 bilhões em 2023, além de permitir investimentos no valor de até R$23 bilhões fora do teto. A diferença em relação a proposta inicial foi a respeito do prazo da excepcionalidade, que agora foi colocado por quatro anos (ao invés de tempo indeterminado). No entanto, ainda está sendo formado acordo sobre o texto. As negociações até agora sinalizam que está se formando um consenso em torno do valor de R$ 150 bi de gastos extras para o ano que vem. O prazo para aprovação no Senado e, em seguida, na Câmara é apertado. Lembrando que após a aprovação da PEC é necessário aprovar também o orçamento de 2023 antes do recesso parlamentar.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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