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Relatório mensal: Copom sinaliza fim do ciclo de alta de juros

Equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulga projeções

Atualizado em

C6 Bank Felipe Salles. Foto: Germano Lüders

A equipe econômica do C6 Bank, liderada por Felipe Salles, divulgou nesta quinta-feira (11) mais uma edição do seu relatório macroeconômico. Confira, abaixo, a íntegra do documento:

Resumo

Internacional

A economia global segue em um cenário turbulento e de crescimento baixo, mas não uma recessão. O principal motivo é o aperto monetário que vem sendo implementado em vários países, visando reduzir a inflação. Adicionalmente, a escassez de gás na Europa e a desaceleração da economia chinesa, afetadas pelo longo conflito na Ucrânia e por medidas restritivas na China como resposta à Covid-19, pesam sobre a atividade global.

Nos EUA, a atividade continua desacelerando, refletindo o impacto da política monetária mais restritiva sobre a demanda. A inflação cedeu um pouco na margem, com queda no preço de energia e menor crescimento no preço de bens, devido à queda recente dos preços das commodities. No entanto, o núcleo da inflação segue robusto e acumula alta de 5,9% nos últimos 12 meses. O mercado de trabalho continua aquecido, com a taxa de desemprego no mínimo da série histórica, pressionando salários. O banco central americano (Federal Reserve – Fed) subiu a taxa de juros em 75 pontos-base, pela segunda vez consecutiva, na reunião de julho e sinalizou que mais aumentos serão apropriados e dependentes de dados. Além disso, o Fed continua com a redução de seu balanço patrimonial, iniciada em junho. O dólar perdeu força contra as demais moedas, com expectativas do mercado que o próximo aumento de juros do Fed seja de menor magnitude depois que dados de inflação indicaram uma desaceleração dos preços.

A atividade na área do euro surpreendeu positivamente no 2T22, com um aumento no PIB puxado principalmente pelo setor de turismo. Entretanto, preços altos de energia e preocupações quanto ao fornecimento de gás russo continuam pesando sobre a confiança do consumidor e de empresas, afetando a atividade. Falhas nas cadeias globais de produção também continuam atrapalhando uma recuperação da economia no curto prazo. Há sinais de que a atividade pode contrair nos próximos meses. Pressões inflacionárias seguem elevadas. O Banco Central Europeu (BCE) aumentou as taxas de juros na reunião de julho e indicou que mais aumentos serão apropriados.

Líderes do governo chinês, em evento de cúpula do partido, não mencionaram a meta de crescimento para o ano, relativizando sua importância, e não deram sinal de que mais estímulos serão dados à economia. A China teve um aumento no número de casos de Covid-19, mas estes estão localizados fora de grandes centros econômicos. Apesar de estar bem abaixo do surto que atingiu um pico em abril, a política de Covid zero continua e tem levado ao crescimento do número de áreas de isolamento no país. A cidade de Xangai está praticamente de volta à normalidade depois de um alívio gradual das medidas restritivas aplicadas durante o lockdown em maio e junho. Os índices de atividade do país sinalizaram uma perda de impulso da indústria e de serviços no mês de julho, com desaceleração provocada principalmente por redução na produção e na demanda local e externa.

Brasil

As condições que possibilitaram o sólido crescimento do PIB de 4,6% para 2021 e início de 2022 não devem estar presentes no restante deste ano. Os dados recentes de atividade corroboram nossa projeção de crescimento de 2% para 2022. Para 2023, acreditamos que o PIB deve continuar desacelerando devido principalmente à política monetária contracionista que deve se estender ao longo do ano que vem.

O resultado primário do setor público consolidado voltou a surpreender positivamente, influenciado por aumentos temporários da receita, mas a perspectiva de desaceleração do crescimento, as desonerações e os aumentos dos gastos do governo sugerem deterioração à frente. Revisamos nossa projeção de resultado primário de superávit de 0,2% para 0,6% do PIB para 2022, mas mantivemos o déficit de 0,8% do PIB para 2023. A trajetória das contas públicas está em deterioração e provavelmente voltaremos a ter déficit fiscal a partir do ano que vem.

Em nossa visão, a taxa de câmbio nos patamares atuais, historicamente elevados, reflete riscos fiscais. A taxa de câmbio possui forte correlação com a dívida líquida do setor público. A valorização do dólar globalmente também tem pressionado o real. Mantivemos nossa projeção para taxa de câmbio em R$ 5,50 no fim de 2022 e de R$ 5,80 ao final de 2023.

A dinâmica inflacionária recente mostra queda do IPCA no acumulado em 12 meses, influenciado pela forte redução dos bens monitorados. As medidas de desonerações explicam praticamente toda essa desaceleração. Mantivemos a projeção de IPCA em 6,5% para 2022. Acreditamos que à frente, passado o forte alívio temporário da redução de impostos, a inflação irá continuar alta e desacelerar de forma gradual. Nossa projeção de IPCA de 2023 se manteve estável em 5,7%.

O Copom afirmou que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, na próxima reunião”, em setembro. A ata esclareceu que as projeções dos modelos do BCB já se encontram ao redor da meta no horizonte relevante de política monetária. Acreditamos que a comunicação e as projeções do BCB são condizentes com a manutenção da taxa Selic em 13,75% na reunião de setembro. A Selic deve permanecer neste patamar até pelo menos o 3º trimestre do ano que vem e terminar o ano de 2023 em 12,25%.

Panorama Global

EUA

A economia americana contraiu novamente no 2T22, refletindo uma desaceleração na atividade em meio ao impacto da política monetária mais restritiva. A queda no PIB de 0,9% em relação ao trimestre anterior foi causada por uma redução nos estoques e nos investimentos no setor imobiliário, além de um menor crescimento do consumo. Em julho, a desaceleração continuou tanto no setor de manufaturas quanto serviços, de acordo com o índice de gerente de compras (PMI na sigla em inglês), divulgado pela S&P Global. As empresas reportaram menor demanda e produção no período e indicaram planos de reduzir número de empregados para cortar custos. Pressões inflacionárias continuam elevadas para padrões históricos, mas têm diminuído recentemente.

O mercado de trabalho permanece forte. A taxa de desemprego está no mínimo da série histórica. O número de vagas em aberto segue bastante elevado, com quase o dobro do número de vagas por desempregado no país. A forte demanda por trabalhadores tem pressionado salários.

A inflação desacelerou recentemente, principalmente por uma queda no preço de energia, enquanto alimentos continuaram subindo. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, também desacelerou e isso, em parte, reflete alguma melhora na cadeia de produção, redução nos preços das commodities e uma queda nos preços de alguns itens voláteis, como passagens aéreas e aluguel de veículos. Em 12 meses, o núcleo da inflação permaneceu elevado, bem acima da meta de 2% do Fed. Nossa expectativa é que os preços continuem cedendo em razão da política monetária mais restritiva do Fed, mas que não voltem a meta em um horizonte próximo.

O banco central americano (Federal Reserve – Fed) elevou o intervalo da taxa básica de juros para 2,25% e 2,5% ao ano, subindo a taxa básica em 75 pontos-base pela segunda vez consecutiva. O aumento era esperado depois de comentários de alguns membros do Comitê apoiando esta alta em razão da inflação elevada. Este foi o quarto aumento consecutivo da taxa e o maior aumento acumulado em dois meses desde o início da década de 80. No comunicado, o Comitê indicou que mais aumentos serão apropriados nas próximas reuniões. Quanto ao balanço patrimonial, o comunicado citou que a redução continua conforme anunciado na reunião de maio (iniciada em junho, alcançando um máximo de US$ 95 bilhões por mês a partir de setembro). O presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou o foco em trazer a inflação para a meta e indicou que as magnitudes de aumentos futuros dependerão dos dados. Powell também disse que não acredita que a economia esteja em recessão, pois seria incompatível com o mercado de trabalho aquecido.

O dólar perdeu força contra as demais moedas, com expectativas do mercado que o próximo aumento de juros do Fed seja de menor magnitude depois que dados de inflação indicaram uma desaceleração dos preços.

Europa

O PIB da área do euro cresceu 0,7% no 2T22 frente ao trimestre anterior, surpreendendo expectativas de uma desaceleração. O crescimento, no entanto, ocorreu em razão de uma expansão da França (0,5%), Itália (1%) e Espanha (1,1%), beneficiadas pelo turismo durante o verão e, portanto, deve perder o fôlego em breve. A Alemanha, maior economia da região e mais exposta ao fornecimento de gás russo, ficou estagnada.

O conflito entre Rússia e Ucrânia entrou no sexto mês. A Rússia continua com bombardeios e tem avançado no leste do país, seguindo para tomar a região de Donbas. A Ucrânia mostra resistência e continua recebendo ajuda militar, financeira e humanitária do Ocidente. Negociações para um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia estão praticamente paradas. O conflito se estende por mais tempo do que era previsto.

Os preços de energia, metais e grãos continuam com alta volatilidade. O preço do petróleo diminuiu no mês de julho, refletindo uma expectativa de uma desaceleração global causada por políticas monetárias mais restritivas por parte dos principais bancos centrais de economias desenvolvidas e por uma escassez de gás na Europa. O preço do gás continuou subindo no período, em razão de menor remessa da Rússia, principal fornecedor da Europa, para Alemanha, mesmo após finalizada a manutenção do gasoduto de Nord Stream 1, e preocupações que um corte total na oferta russa ocorra em breve. No momento, fluxos russos estão estáveis, porém baixos. O embargo total da União Européia ao carvão russo começou esta semana, o que pode agravar a escassez de energia na região. Exportações de grãos da Ucrânia foram retomadas a partir de seus portos no Mar Negro que estavam fechados desde o início da guerra. Navios carregando trigo e milho já saíram em direção a Europa e África e os preços dessas commodities caíram no mercado internacional.

Em julho, a atividade desacelerou, segundo os índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), tanto em manufaturas quanto serviços. O PMI de manufaturas sinalizou contração nas principais economias do bloco – Alemanha, França, Itália e Espanha – e o PMI de serviços mostrou crescimento mais fraco. Houve queda na produção e demanda, menor pressão de preços e leve sinal de melhora nos gargalos da cadeia produtiva. O PMI composto – que inclui o setor de manufaturas e serviços – diminuiu para 49,4. Os riscos de contração da atividade na região à frente são elevados.

A inflação alcançou novo recorde, 8,9% acumulada em doze meses, em razão da forte alta no núcleo e no preço de alimentos. O núcleo da inflação subiu com aumento nos preços de bens, refletindo restrições de oferta e repasse de preços de insumos, em particular, energia. No mercado de trabalho, continuam sinais de aperto com a taxa de desemprego permanecendo na mínima histórica de 6,6% em abril.

O Banco Central Europeu (BCE) aumentou juros em 50 pontos-base, acima do sinalizado na reunião anterior, em razão de riscos maiores de inflação elevada. O BCE indicou que mais aumentos devem seguir ao longo do ano e as magnitudes dependerão dos dados. A intenção é garantir que a inflação retorne para a meta, que é de 2% no médio prazo. A presidente do banco, Christine Lagarde, disse que o recente aumento foi uma antecipação de aumento futuro e que não indica que a taxa de juros no final do ciclo será maior. O BCE também anunciou uma nova ferramenta anti-fragmentação que garante que a política monetária será transmitida igualmente para todos os países membros. O objetivo é evitar que economias mais frágeis se deparem com custos de financiamentos de dívida pública mais elevados. Todos os países do bloco são elegíveis, mas precisarão atender a critérios fiscais e macroeconômicos para receberem auxílio.

China

Líderes do governo chinês, em reunião do Politburo, discutiram direções da economia para o segundo semestre, sem apresentar sinais claros de mais estímulos. Em comunicado, alguns pontos chamaram a atenção: a meta de crescimento para o ano não foi citada, a política de Covid zero foi reiterada, porém deve-se buscar maior equilíbrio para a economia, e um apoio ao mercado imobiliário deve ser dado a nível local.

O número de novos casos de Covid-19 provocado pela variante ômicron voltou a subir no país depois de ficar próximo a 100 por duas semanas no fim de junho. O total de novos casos segue bem abaixo dos milhares que ocorreram durante o surto em abril e maio deste ano e levaram a duras restrições em Xangai, que impôs lockdown por dois meses, e Pequim. O novo surto está localizado em algumas províncias mais ao sul e ao noroeste. Xangai continua fazendo testagens frequentes até o fim de agosto, mas o número de casos está baixo, e já não possui áreas consideradas de risco alto ou médio. 

A China deve ser menos afetada pelo conflito na Ucrânia do que as economias ocidentais. O país tem mantido uma postura neutra, sua exposição comercial aos países em conflito é baixa e não foram impostas sanções aos produtos russos. Dito isso, a China pode ser afetada indiretamente pelo menor crescimento global, que pode diminuir suas exportações, e pela maior volatilidade de preços de commodities no mercado internacional.

Os indicadores de atividade industrial e de serviços, reportados pelos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), calculado pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês), perderam o fôlego em julho. O PMI composto, que considera o setor de manufaturas e de serviços, diminuiu 1,6 ponto para 52,5, sinalizando uma expansão mais fraca que no mês anterior. A desaceleração na atividade ocorreu principalmente em razão de uma contração em manufaturas. Houve desaceleração na produção e na demanda doméstica e externa. O PMI de serviços também diminuiu, mas permanece indicando expansão moderada. Há risco de a atividade desacelerar mais caso o surto de Covid-19 alcance grandes centros do país.

O banco central da China (PBOC, na sigla em inglês) manteve inalteradas as taxas de curto, médio e longo prazo, conforme esperado. O PBOC tem mostrado preferência por medidas de crédito direcionadas a alguns setores ao invés de uma redução nas taxas de juros em meio a um aperto de política monetária em várias economias desenvolvidas. Um movimento contrário do PBOC poderia provocar fuga de capital, depreciação cambial e inflação no país. Em relatório trimestral, o banco central reiterou que a política monetária continuará prudente e afirmou que o setor imobiliário não será utilizado para estimular a economia.

Os PMIs de manufaturas da maioria dos países do leste asiático, excluindo China – importante elo na cadeia de suprimento global -, continuaram sinalizando expansão moderada em julho. Em Taiwan, o índice sinalizou contração pelo segundo mês consecutivo, em razão de uma queda na produção, provocada principalmente por menor demanda global e maiores custos de insumos.

Cenário Doméstico

Atividade

O PIB brasileiro cresceu 4,6% em 2021, após cair 3,9% em 2020 sob forte impacto da pandemia. A progressiva reabertura da economia, possibilitada pelo avanço da vacinação, permitiu a retomada do setor de serviços, particularmente os prestados às famílias. A elevação do número de casos de Covid-19 no início de 2022 teve pouco impacto na atividade e o PIB cresceu 1% no 1T22. Os efeitos da pandemia sobre a economia estão praticamente superados.

Para o PIB do 2T22 esperamos crescimento de 1,4% frente ao trimestre anterior, com alta em serviços, indústria e agropecuária. No entanto, os trimestres seguintes devem apresentar crescimento baixo ou negativo.

As condições que possibilitaram o sólido resultado para 2021 e início de 2022 não devem estar presentes no restante deste ano. A taxa Selic em território contracionista já afeta a atividade. A forte desaceleração do crescimento global deve impactar a atividade doméstica. A normalização da política monetária dos bancos centrais globais e, em particular, do banco central americano, impõe novos desafios à atividade global, num contexto em que a Europa sofre um choque na oferta de energia e a China ainda não descartou possíveis problemas com um novo surto de Covid-19. A alta nos preços de commodities, que beneficiaram o Brasil no primeiro semestre, não deve se manter à frente: já vemos queda nos preços desses produtos em função da perspectiva de desaceleração global.

Os dados de atividade econômica indicam expansão do PIB para o 2º trimestre. No entanto, os dados mais recentes referentes a junho e julho já mostram sinais de desaceleração e corroboram nossa perspectiva de um segundo semestre mais fraco. Mantivemos projeção de crescimento de 2% para o PIB de 2022. Para 2023, entretanto, acreditamos que o PIB deve continuar desacelerando devido principalmente à política monetária contracionista, que deve se estender ao longo do ano que vem. Projetamos estabilidade da atividade para 2023.

A taxa de desemprego seguiu caindo em junho, mas interrompeu uma sequência de 12 divulgações consecutivas que apresentaram surpresa positiva (mais baixa do que o consenso) e veio em linha com o esperado. Ela segue em patamar relativamente alto (9,1% na série com nosso ajuste sazonal), mas está perto do seu nível neutro. A perspectiva de crescimento abaixo do potencial para o segundo semestre deste ano e para 2023 nos leva a projetar uma taxa de desemprego que volta a subir no ano que vem.

Fiscal

O resultado primário do setor público consolidado encerrou o ano de 2021 positivo em 0,7% do PIB. Foi o primeiro superávit primário desde 2013. Para 2022, apesar da perspectiva de desaceleração do crescimento e da inflação, combinada com uma aceleração dos gastos, houve surpresa forte na arrecadação, o que deve levar o setor público consolidado a ter um novo superávit. As divulgações dos resultados fiscais recentes melhores do que o esperado refletem, na nossa visão, uma inflação persistentemente mais alta, preços de commodities elevados, que fortalecem a arrecadação, além de receitas pontuais. Por outro lado, projetos aprovados este ano (dentre eles a LC 194, a zeragem de alguns impostos federais e estaduais sobre combustíveis e a redução de IPI) têm o potencial de afetar negativamente a arrecadação, principalmente no 2º semestre, em cerca de R$ 130 bi (1,3% do PIB) este ano e R$ 200 bi (2% do PIB) em 2023, caso as medidas temporárias sejam prorrogadas.

Para o ano que vem, na nossa visão, o risco dessas medidas serem prorrogadas é grande e já vemos sinais disso. Além disso, o cenário é de continuação do aumento de gastos em 2023. Revisamos para cima nossa projeção para o resultado primário do setor público consolidado de superávit de 0,2% para 0,6% em 2022, em função das surpresas na arrecadação, mas mantivemos déficit de 0,8% para 2023. A trajetória das contas públicas está em deterioração e devemos voltar a ter déficit fiscal a partir do ano que vem.

Nossa projeção de dívida líquida passou de 59,8% para 58,6% do PIB para 2022. A dívida deve continuar subindo em 2023 puxada pela perspectiva de juros elevados, pelo baixo crescimento do PIB e pelas medidas recentes de desonerações e aumento de gastos. No entanto, a melhora na nossa projeção do resultado primário e a revisão para baixo na Selic melhoraram a dinâmica esperada para dívida pública. Nossa expectativa para dívida líquida de 2023 passou de 64,6% para 62,5% do PIB ao final do ano. A incerteza fiscal segue alta e vemos uma deterioração das perspectivas de longo prazo para a sustentabilidade das contas públicas.

Setor externo

Acreditamos que o atual nível do câmbio em patamares historicamente elevados esteja alinhado com os fundamentos da economia, principalmente considerando os riscos fiscais. A taxa de câmbio possui forte correlação com a dívida líquida do setor público.

Continuamos acreditando que a piora da trajetória da dívida líquida do governo e o fortalecimento do dólar frente às demais moedas, decorrente da retirada de estímulos monetários nos EUA, são fatores que devem levar a uma depreciação do real. Mantivemos a projeção de taxa de câmbio em R$ R$ 5,50 para o final de 2022. Para 2023, o câmbio deve continuar a registrar depreciação, pelos mesmos motivos citados acima. Nossa projeção para a taxa de câmbio ao final de 2023 está em R$ 5,80.

Com relação às contas externas, as importações em patamar elevado, apesar da taxa de câmbio depreciada, levarão a um saldo negativo das transações correntes para 2022.  Os dados recentes de balança comercial têm vindo mais fortes do que o projetado. Nossa projeção para o resultado da conta corrente é de déficit de US$ 32 bi em 2022. Para 2023, o câmbio mais depreciado deve reduzir o déficit. Nossa projeção é de déficit de US$ 11 bi.

Inflação

A forte elevação de preços em 2021 de 10,1% impacta a inflação deste ano via inércia. A LC 194, que limita o ICMS de energia elétrica, combustíveis, telecomunicações e isenta de impostos federais a gasolina e o etanol, está reduzindo em cerca de 250 pontos-base a inflação de 2022. Nos últimos meses, dois fatores também trouxeram algum alívio para a perspectiva inflacionária: (i) houve queda nos preços de commodities globais e (ii) normalização das cadeias globais de produção. Ambos já estavam sendo levados em conta nas nossas projeções. Mantivemos o IPCA de 6,5% para 2022. Acreditamos que à frente, passado o forte alívio temporário da redução de impostos, a inflação irá continuar alta e desacelerar de forma gradual.

A dinâmica inflacionária recente mostra queda do IPCA no acumulado em 12 meses, influenciada pela forte redução dos bens monitorados. A inflação de bens industriais mostra sinais claros de desaceleração, enquanto a de serviços segue alta. Acreditamos que a inflação de serviços deve continuar elevada nos próximos meses em função da inércia inflacionária.

Para 2023, de um lado tivemos revisão para baixo nos preços do mercado futuro de commodities e, de outro, revisão para baixo na taxa de desemprego (que pressiona a inflação de serviços). Nossa projeção de IPCA se manteve estável em 5,7%.

Política monetária

O Copom (Comitê de Política Monetária) iniciou um ciclo de alta de juros em março do ano passado. Na última reunião, em agosto, o Comitê elevou a taxa Selic em 50 pontos-base, para 13,75%, e afirmou que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”.

As projeções de inflação do BCB no cenário de referência caíram de 8,8% para 6,8% para 2022 e subiram de 4% para 4,6% para 2023. Para 2024, o modelo segue indicando inflação de 2,7%. Além disso, conforme afirmado no comunicado, o BCB passou a dar ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024 ao invés do ano calendário de 2023. A projeção do Banco Central para este período situa-se em 3,5%. Este cenário supõe trajetória de juros que permanece em 13,75% até o final de 2022 e reduz-se para 11% ao final de 2023.

A ata esclareceu que a projeção da inflação de doze meses no primeiro trimestre de 2024, para a qual o Comitê passou a dar ênfase, “é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”. Além disso, o texto afirma que “a projeção de inflação para o ano-calendário de 2024 também se encontra ao redor da meta estipulada.” Ou seja, para o horizonte que o BCB está mirando, as projeções dos seus modelos já se encontram ao redor da meta.

A deterioração das expectativas de inflação para 2023 era um dos principais fatores que, na nossa visão, fariam a autoridade monetária continuar com mais um ajuste nos juros na reunião de setembro.  No entanto, a ata ressaltou que “a elevação das expectativas e das projeções de médio prazo se concentrou na inflação de preços administrados, em função do caráter temporário de algumas medidas tributárias.”

O Comitê sinalizou que “avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, na próxima reunião, com o objetivo de trazer a inflação para o redor da meta no horizonte relevante”. O Comitê também afirmou que “seguirá vigilante e avaliará se somente a perspectiva de manutenção da taxa básica de juros por um período suficientemente longo assegurará tal convergência”, sinalizando que poderá elevar as taxas de juros à frente caso necessário.

Acreditamos que a comunicação e as projeções do BCB são condizentes com a manutenção da taxa Selic em 13,75% na reunião de setembro. A Selic deve permanecer neste patamar até pelo menos o 3º trimestre do ano que vem e terminar o ano de 2023 em 12,25%.

Projeções macroeconômicas do C6 Bank

 2019202020212022P2023P
Atividade     
Crescimento Real do PIB1,2%-3,9%4,6%2,0%0,0%
PIB Nominal (R$ bi)7.3897.4688.6799.68510.306
Fiscal     
Resultado Primário (% PIB)-0,8%-9,4%0,7%0,6%-0,8%
Dívida Líquida (% PIB)54,7%62,5%57,2%58,6%62,5%
Dívida Bruta (% PIB)74,4%88,6%80,3%78,5%83,9%
Setor Externo     
R$/US$ (final de período)4,035,205,585,505,80
Balança Comercial (US$ bi)2732365570
Conta Corrente (US$ bi)-65-24-28-32-11
Conta Corrente (% PIB)-3,5%-1,7%-1,7%-1,8%-0,6%
Inflação     
IPCA (Var. a/a )4,3%4,5%10,1%6,5%5,7%
Juros     
Selic (dez)4,50%2,00%9,25%13,75%12,25%
P=Projeção
Fontes: IBGE, BCB, Bloomberg, C6 Bank

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

Este relatório foi preparado pelo Banco C6 S.A.

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