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Resumo semanal: Inflação disseminada

Confira as principais notícias da semana, segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank

Atualizado em

Confira as principais notícias da semana (9/5-13/5), segundo a avaliação da equipe econômica do C6 Bank. Leia a íntegra do relatório.

Internacional

Estados Unidos: inflação elevada, núcleo firme

A inflação segue alta. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% em abril frente ao mês anterior, de acordo com o Departamento do Trabalho americano. Os preços de alimentos tiveram aumento de 0,9% enquanto os de energia contraíram 2,7%, depois de forte alta no mês anterior. O núcleo do CPI (exclui alimentos e energia) acelerou e registrou aumento de 0,6% no mês e 6,2% em 12 meses. Apesar de preços de bens terem subido moderadamente, os aumentos em serviços continuam fortes e reforçam o diagnóstico de que a inflação pode ser mais persistente do que o esperado. O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) segue sólido, aumentou em 0,5% no mês e nos últimos 12 meses acumula alta de 11%, sinalizando que algum repasse à inflação ao consumidor ainda está por vir.

O índice de otimismo das pequenas empresas, medido pela Federação Nacional de Empresas Independentes (NFIB, na sigla em inglês), se manteve em 93,2 em abril, permanecendo abaixo do nível pré-pandemia. As pequenas empresas continuam sinalizando dificuldades na contratação de trabalhadores, pressões de preços e salários.

O mercado de trabalho continua forte. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego, divulgados pelo Departamento do Trabalho, alcançaram 203 mil na semana encerrada em 7 de maio, 1 mil acima da semana anterior. Em nossa visão, este patamar é compatível com uma taxa desemprego ao redor de 3%.

Os números de novos casos de Covid-19 e de hospitalizações continuam baixos no país.

Europa: conflito na Ucrânia afeta a atividade

O conflito entre Rússia e Ucrânia segue pelo terceiro mês. A Rússia continua tendo dificuldades de alcançar seus objetivos e os ataques continuam. A Ucrânia mostra resistência e segue recebendo ajuda militar, financeira e humanitária do ocidente. Negociações diretas entre Rússia e Ucrânia estão praticamente paradas. O conflito deve se estender por mais tempo do que era previsto.

Os preços das commodities continuam com alta volatilidade. Entre os dias 6 e 12 de maio, o petróleo cedeu 4,4% diante da dificuldade da União Europeia em aprovar o embargo ao petróleo russo. O gás natural subiu 4,9% no mesmo período, após corte parcial no fornecimento de gás russo para a Alemanha.

A produção industrial caiu 1,8% em março frente ao mês anterior, maior queda em mais de um ano. O índice voltou a ficar abaixo do nível pré-pandemia, refletindo maior aperto nas cadeias de produção e custos maiores de energia, causados pelo conflito no continente. Entre as maiores economias da região, a Alemanha foi a que teve pior desempenho com queda de 3,9%.

No Reino Unido, a economia cresceu 0,8% no 1T22 em relação ao trimestre anterior, com ajuste sazonal, de acordo com a primeira estimativa do Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês). No mês de março, a atividade encolheu 0,1% frente ao mês anterior. Houve contração na produção industrial (-0,2%) e serviços (-0,2%). Já o mercado de trabalho seguiu apertado em abril, segundo pesquisa da Confederação do Recrutamento e Emprego (REC, na sigla em inglês). O número de vagas criadas segue elevado e os salários pressionados, próximos ao recorde alcançado no mês anterior.

China: Covid-19 em queda, mas restrições impactam economia

O número de novos casos de Covid-19 continua com tendência de queda, passando de dezenas de milhares há duas semanas para poucos milhares recentemente. Os casos continuam concentrados em Xangai, que segue em lockdown há 6 semanas. Autoridades locais disseram que buscam terminar com os casos de transmissão comunitária até 20 de maio, o que se alcançado significaria um fim do lockdown na cidade. Em Pequim, o número de novos casos permanece baixo, depois de seguidas testagens em massa. Medidas restritivas mais duras continuam em vigor para evitar um agravamento do quadro na capital. O governo chinês anunciou medidas de apoio a pequenas e médias empresas mais afetadas pelo surto de Covid-19, como subsídios a aluguéis, possibilidade de renegociação de dívidas e empréstimos.

A inflação veio acima do esperado no mês de abril, mas segue baixa. O índice de preços ao consumidor acelerou 2,1% frente ao mesmo mês do ano anterior, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas chinês (NBS, na sigla em inglês). Houve aumento no preço de energia e alimentos. O núcleo da inflação teve aumento modesto de 0,9%, possivelmente em razão de um consumo mais fraco em meio às restrições de mobilidades relacionadas ao surto de Covid-19. A inflação ao produtor desacelerou para 8,0%, mas segue elevada em razão dos altos preços de commodities no mercado internacional.

O fluxo de crédito agregado diminuiu de RMB 4,6 trilhões para RMB 910 bilhões em abril, segundo o banco central da China (PBOC, na sigla em inglês), ficando abaixo do esperado e alcançando o menor valor desde fevereiro de 2020. Houve forte queda dos empréstimos bancários, principalmente de médio e longo prazo, às empresas e famílias, e menores emissões de títulos públicos e privados.

A balança comercial registrou superávit de US$ 51,12 bilhões em abril, US$ 3,7 bilhões a mais que no mês anterior. Exportações desaceleraram 3,9% comparadas ao mesmo mês do ano anterior, devido a dificuldades na cadeia de produção e lockdowns em várias cidades chinesas. Importações permaneceram estáveis.

Brasil

Atividade: varejo e serviços registram expansão e reforçam nossa projeção de PIB de 1,5%

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de março mostrou alta de 0,7% frente ao mês anterior no volume de vendas no comércio varejista ampliado. O resultado veio melhor do que nós e o mercado projetávamos. A composição do índice mostrou que os componentes específicos do varejo ampliado (veículos e materiais de construção) vieram mais fortes que nossas projeções. Os últimos dois meses de vendas no varejo em terreno positivo, no entanto, não alteram nossa perspectiva para o setor até o fim do ano, que deve seguir com desempenho fraco. A alta de juros e a renda real em patamar baixo comprometem a expansão deste segmento.

A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de março mostrou alta de 1,7% no volume de serviços na comparação mensal. O dado veio acima das expectativas do mercado e da nossa projeção. A alta foi disseminada. O segmento de serviços prestados às famílias – o mais afetado pelas restrições de mobilidade – veio acima do que esperávamos, mas ainda segue 12% abaixo do nível pré-pandemia.

À frente, vendas no varejo e serviços devem seguir com desempenho fraco até o final do ano, influenciadas pela desaceleração da economia e inflação elevada (que reduz a renda real). No entanto, os dados divulgados essa semana reforçam nossa projeção de PIB de 1,5% em 2022 e aumentam as chances de termos um crescimento ainda mais elevado.

Inflação: alta de preços disseminada

O IPCA de abril registrou expansão de 1,06%, acima do que esperávamos (0,97%) e um pouco acima do projetado pelo mercado (1,01%). O índice acumula alta de 12,13% na variação em 12 meses. Houve surpresa para baixo em monitorados, principalmente em gasolina, enquanto a média dos núcleos do Banco Central surpreenderam para cima. A composição do índice mostra inflação de serviços e de bens industriais ainda elevada. Em 12 meses, a inflação de serviços acumula alta de 6,9% e a de bens industriais de 14,2%. A inflação de serviços deve continuar sentindo a inércia inflacionária nos próximos meses. A inflação de bens industriais também deve seguir elevada devido aos novos choques nas cadeias globais de produção (Guerra na Ucrânia e lockdowns na China). O índice de difusão, que mede o percentual de subitens em alta no mês, registrou 78,25% – patamar mais alto desde novembro de 2002 – sinalizando uma alta de preços disseminada. O dado elevou nossa projeção para a inflação de 2022. Por ora, nossa previsão é que o IPCA termine o ano em 8,4%.

Política monetária: Copom sinaliza Selic em 13,25% no final do ciclo

O Banco Central divulgou nesta terça (10) a ata das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 3 e 4 de maio, apresentando mais detalhes sobre os rumos da política monetária.

As projeções de inflação do BCB no cenário de referência, no qual considera agora preços de petróleo do mercado futuro até final de 2022, situam-se em 7,3% para este ano e em 3,4% para o próximo ano (ligeiramente acima da meta de 3,25%). O cenário supõe trajetória de juros projetada pelo boletim Focus, que se eleva até 13,25% em 2022 e recua para 9,25% ao final de 2023.

O Copom ressaltou que “o ciclo de aperto monetário corrente foi bastante intenso e tempestivo e que, devido às defasagens de política monetária, ainda não se observa grande parte do efeito contracionista esperado”, sinalizando que gostaria de parar para observar os efeitos das políticas já adotadas. De fato, na nossa visão, a manutenção da taxa Selic em patamares significativamente contracionistas por um período prolongado seria mais efetiva para trazer a inflação à meta do que elevações adicionais de juros.

Ainda assim, o Comitê notou que ocorreu deterioração marginal na dinâmica inflacionária de curto prazo e prospectiva. “O Comitê optou, então, por sinalizar, como provável, uma extensão do ciclo, com um ajuste de menor magnitude”, sinalizando uma alta, na nossa visão, de 50 pontos-base na reunião de junho como a decisão mais provável. Tal estratégia “reflete o aperto monetário já empreendido, reforça a postura de cautela da política monetária e ressalta a incerteza do cenário.” Esses trechos indicam que a manutenção da Selic no patamar atual na próxima reunião também é possível.

Vale ressaltar que a partir da reunião de agosto, o BCB deve estender seu horizonte relevante de política monetária e passar a olhar também para o ano de 2024. Como, nos modelos do BCB, as projeções para este ano (apresentadas no Relatório de Inflação de março – 2,4% no cenário de referência e 2,3% no cenário alternativo) se encontram abaixo da meta de 3%, entendemos que não haveria espaço para fazer elevações de juros a partir do segundo semestre.

Em resumo, acreditamos que a comunicação é condizente com um cenário de uma alta adicional de 50 pontos-base na reunião de junho, elevando a taxa Selic ao nível de 13,25%, finalizando o ciclo de ajuste monetário.

Nota: O Banco Central não divulgou essa semana a pesquisa do Boletim Focus devido à greve dos servidores.

Equipe Econômica C6 Bank

Felipe Salles Head
Claudia Moreno Head Brasil
Claudia Rodrigues Head Internacional
Felipe Mecchi Internacional
Heliezer Jacob Brasil

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